Acordar cedo, atravessar a rua todos os dias e ter a oportunidade de ver o mar é definido como um presente pela espanhola Ana Galocha, artista plástica, empresária, mãe de gêmeos e esposa do técnico Davide Ancelotti, do Botafogo. Se antes o futebol não era prioridade para ela, que pouco se importava com o que acontecia dentro das quatro linhas, tudo mudou com a chegada de Davide em sua vida, em 2014, quando os dois se conheceram na primeira passagem de Carlo Ancelotti pelo Real Madrid.
Hoje, ela acompanha o marido em seu primeiro trabalho como técnico principal – antes, ele era auxiliar do pai, atualmente comandante da seleção brasileira. Ela conta que, quando o marido recebeu o convite do time carioca, a empolgação de Davide ficou evidente. Coube a ela dar o impulso necessário para que ele aceitasse o desafio.
– Estávamos de férias, na Espanha era verão, e estávamos na praia, quando o Davide recebeu a ligação do Botafogo. “Como? Brasil? Rio de Janeiro?”. Cinco dias depois, ele tinha que estar aqui.
– Ele sempre me consulta, então, quando o Botafogo ligou para o Davide, ele precisava falar comigo. E eu lhe disse: “Está bem, amor, se você quer ir ao Rio, vamos”. E ele ficou muito tranquilo. Senti que ele queria vir morar aqui e trabalhar aqui. Por isso lhe disse para vir – completou em entrevista exclusiva ao ge.
Mas mudança geográfica não é tão novidade assim para ela, que agora acompanha o companheiro no sexto trabalho – do Real Madrid, passou por Bayern de Munique, Napoli, Everton, novamente Real Madrid e Botafogo.
Apesar de ter que ter atravessado o oceano pela primeira vez, ela relata que o desafio está no sofrimento diante do protagonismo na comissão técnica do companheiro.
– É a primeira vez do Davide (como técnico principal). E isso muda tudo. Para mim era difícil. Eu pensava que antes sofria muito, por Carlo e por Davide, mas agora é diferente. Sofremos mais. Todos sofremos mais. Mas te digo, de verdade, a paixão é difícil em todo o mundo porque ela depende muito de resultados. E quando o resultado é bom, os torcedores ficam felizes… Mas não há muita diferença (da Europa para o Brasil). Tenho sentido muito carinho…
– Porque ele, quando trabalhava com seu pai, tinha muita, muita responsabilidade. Só que ele não era protagonista da responsabilidade, mas tinha muita com seu pai, que deixava muita responsabilidade para o Davide.
Davide chegou ao Brasil sozinho, mas poucas semanas depois já contou com a companhia de Ana e dos filhos gêmeos, Leonardo e Lucas. O processo para encontrar casa para morar e escola para o filhos foi rápido, já que havia o desejo conjunto da mudança para o Brasil e os esforços foram concentrados nisso.
Ana conta que, antes de chegar, contou com a ajuda da esposa do volante Allan, Thais Marques, que aconselhou a espanhola sobre onde morar e qual escola colocar os filhos – elas se conheceram quando o meio-campista e Davide trabalharam juntos no Napoli, da Itália, na temporada 2018/2019.
Além das necessidades, também houve preocupação com a questão da segurança, ponto sempre destacado por amigos brasileiros, que vivem em Madrid, onde o casal morava.
– Um pouco de medo por conta das crianças, tenho um pouco mais de precaução, mas estou tranquila, e isso não foi um problema para morar aqui (…). Eu falo com com muita gente que mora na favela, como a pessoa que trabalha na minha casa, e estou sempre com cariocas.
– E quando for para Madrid, eu posso falar da realidade de conheço, e não uma ideia que vejo na televisão. Não. Eu conheço a situação real das pessoas que moram naquelas regiões. E eu sou uma sortuda porque moro em uma situação muito diferente – analisou ela que, intencionalmente, busca conhecer pessoas no seu novo lugar.
Arte, homenagem ao Botafogo e “escudo mais bonito”
Ana é artista plástica e lida com pintura desde pequena. O que começou como hobby, virou um projeto maior, com exposições e confecção de quadros para colecionadores. E nessas idas e vindas de Davide em diferentes países, ela monta seu espaço para conseguir externar suas emoções através do pincel e das telas em branco.
Entre suas obras, já se dedicou para retratar seu maior amor: a família. Ela já pintou o próprio marido, os filhos e até o cachorro, que curiosamente se chama Pelé, em homenagem ao maior jogador da história do futebol brasileiro – todos os cachorros que já passaram pela sua família têm nome de jogador.
Suas obras são reconhecidas na Europa, com identidade contemporânea com traços coloridos. Em 2022 ela fez sua primeira exposição em Madrid (foto acima).
Ao vir para o Rio, ela conta que fez questão de trazer uma “pelusa”, item de decoração que lançou nos últimos meses, para presentear o Botafogo. O “regalo” personalizável, que tem até o escudo alvinegro no peito, deu trabalho para chegar ao Rio. Afinal, a peça com cerca de 70 centímetros, foi carregada por ela entre voos e aeroporto.
Fonte: ge globo