NOTÍCIA FM Ligou, virou Notícia!
Em meio a disputa do título da Fórmula 2 e rumores sobre uma vaga na Fórmula 1, Gabriel Bortoleto faz questão de manter a calma.
Aos 19 anos, o brasileiro da academia de pilotos da McLaren acelera rumo ao topo do automobilismo mundial com apoio da equipe e auxílio do empresário, Fernando Alonso, mas principalmente por um planejamento cuidadoso e muito talento.
Em entrevista ao Na Ponta dos Dedos, do ge, Bortoleto mostrou maturidade em relação a F1 e garantiu foco total na F2.
O momento de Gabriel Bortoleto é ótimo. No último final de semana, o brasileiro saiu de uma classificação negativa na etapa da Itália da Fórmula 2 para dois grandes resultados.
A sprint mostrou um pouco do talento do piloto da Invicta: ele saiu de último para oitavo em 21 voltas e pontuou. Depois, na corrida principal, também largou do fundo do grid, mas dessa vez para vencer.
– Acho que foi um final de semana tão tranquilo… no sábado a gente fez uma corrida maravilhosa. Larguei de último e cheguei em oitavo, passei todo mundo na pista com muita cautela. No domingo, a gente largou de último, fiz uma ótima largada e já estava em 15º na terceira volta. E aí eu decidi estender o primeiro stint e fazer essa volta extra. Só que nessa volta o meu engenheiro ligou o rádio e me disse: “possível safety car, acelere tudo que dá”. Eu saí em sexto ou sétimo e passei todo mundo que já tinha parado. Dali para frente, eu falei: “quero ganhar de uma maneira que eu mereça, convincente”. Acabei a corrida com quase 10s de vantagem, então me provei também que o pace que a gente teve nessa corrida foi impressionante. Foi uma sensação incrível – disse Bortoleto.
As decisões de Bortoleto que o levaram ao topo em Monza não surgiram do nada. Maturidade é uma das palavras-chave para entender o sucesso de Gabriel na F2.
Segundo o brasileiro, 2024 foi o ano em que ele mais mudou como profissional, e isso mesmo após um título de ponta a ponta na F3.
– Eu estava muito confiante com o carro, muito feliz com o balanço de carro que a gente tinha. Era o mesmo nível de confiança que eu tive na Áustria (quando venceu). Então eu estava muito tranquilo. Com um erro desse (da classificação), no passado, eu teria ficado muito mais frustrado. Aceitei na hora que errei e falei com o pessoal da McLaren. Eu meio que acabei com o negativo dentro da equipe que talvez não desse para pegar pódio ou ganhar a corrida.
Aprender com os erros, se divertir e aprender a lidar com a pressão são elementos que pavimentam o caminho de Bortoleto na Fórmula 2.
Até o momento, foram duas vitórias para ele nas etapas de Áustria e Itália que conferem ao brasileiro a vice-liderança no campeonato com 154,5 pontos.
– Nesse campeonato (da F2), eu cheguei a estar em 12º. Ano passado (na F3), eu liderei da primeira etapa até a última. Eu digo do fundo do meu coração que estou me divertindo muito mais esse ano do que eu tava no ano passado. Estou sentindo muito menos pressão externa e interna comigo mesmo. Ano passado me cobrei o tempo inteiro que eu tinha que manter a liderança, que não podia cometer erros, que tinha que ser perfeito. Se eu perdesse um ponto, eu ia ficar irritado que aquilo podia afetar no final do campeonato. Acho que foi uma mentalidade que deu certo, mas acredito que foi uma pressão não necessária do nível que eu me coloquei. Eu nunca teria feito a ultrapassagem que eu fiz no meu companheiro de equipe (Kush Maini, da Invicta) em Silverstone no ano passado. Eu nunca teria arriscado aquilo no ano passado.
– Eu não comecei o campeonato com essa leveza. Pelo contrário, eu comecei com o mesmo sentimento que acabei o título do ano passado (na F3). Acho que era por querer repetir o que fiz no ano passado. Isso foi errado. É meio que impossível você querer repetir exatamente o que você fez. É outro carro, é uma outra categoria, você passa por outras dificuldades. É isso que converso muito com a McLaren. É o processo, eles me falam muito. Talvez se eu tivesse pensado no processo de como chegar nessa primeira etapa e ganhar a primeira corrida do ano, eu teria feito. Eu só pensei “quero ganhar” e cometi os erros que cometi. Eu entrei nesse estado de tranquilidade quando caí para 12º. Foi quando alguma coisa clicou. Mudou durante o ano. Me olhando no futuro, talvez eu lembre que eu posso fazer o mesmo passo.
Ao pensar no processo, Gabriel começou a ter sucesso também nos resultados.
Pontos, pódios e vitórias surgiram para o brasileiro, cada vez mais visto pela McLaren e pelos olhos da Fórmula 1.
Tudo isso, segundo Bortoleto, passa por uma grande mudança interna desde o título da F3, em 2023.
– Ano passado era uma equipe que tinha tudo muito bem definido, os procedimentos de aquecimento de pneu, largada, pré-corrida, tudo era dado. Eu tinha que sentar no carro e tinha que fazer minha parte de acelerar e entregar o melhor resultado e pronto. Esse ano, a equipe me entrega um carro bom pra caramba, mas muitas coisas que eu sofri no no início do ano… eu jogo para mim, mas eu só fui atrás de entender como as coisas estavam dando errado porque elas estavam dando errado.
Apenas 10,5 pontos separam Bortoleto de Isack Hadjar, líder da F2 2024.
Restam três etapas para o campeonato acabar, todas também com corrida sprint, e ultrapassar o líder é algo no radar de Gabriel. Ainda assim, ele garante que não é hora de entrar em pânico e cair na pressão.
– Estou tentando me manter como estive nas últimas três, quatro etapas. A cabeça continua a mesma. A gente vai para Baku, tenta tirar o melhor do carro, tirar o máximo de pontos. Tenho certeza que se a gente fizer o trabalho direitinho e tirar o resultado que der, a gente vai estar na luta pelo campeonato. Vai ser um campeonato acirrado até o final. O negócio é continuar com a mesma mentalidade. Não quero me colocar uma pressão extra por estar mais perto até agora (da liderança). Se eu colocar essa pressão agora, só vai me criar dúvidas, situações que não quero estar. Só quero correr, me divertir, ultrapassar e somar os pontinhos que serão necessários.
Enquanto disputa o título da Fórmula 2, Bortoleto também passou a lidar com uma possível vaga na F1 2025.
A Sauber ainda não definiu quem será o companheiro de Nico Hulkenberg na próxima temporada, e o brasileiro entrou na briga com o experiente Valtteri Bottas por um assento na categoria.
Gabriel é empresariado pela A14 Management, do bicampeão mundial Fernando Alonso, que tenta colocar o jovem piloto no topo do automobilismo mundial.
Por enquanto, Bortoleto se esquiva dos rumores e foca na disputa do título da F2 pela Invicta.
– Obviamente a gente quer entrar na F1. A McLaren está cheia, os pilotos estão definidos com Oscar (Piastri) e Lando (Norris). Eu quero entrar na F1, eu quero uma vaga até por ser o único passo que pode ser tomado. A minha equipe está cuidando disso tudo. Estão conversando com a McLaren sobre possibilidades de entradas na F1. Como o Fernando (Alonso) disse, conversando com possíveis oportunidades. Vamos ver o que o futuro nos espera, mas como disse, eu estou focado na F2. A partir do momento que você perde esse foco, são dois segundos para tudo isso de rumor desaparecer.
Sem uma garantia na F1 2025, Bortoleto segue como piloto de desenvolvimento da McLaren.
José Manuel López García, chefe de testes da equipe na F1 e responsável pelos jovens pilotos no programa da equipe, é quem fica ao lado de Gabriel.
De acordo com o brasileiro, o engenheiro cobrou dele mesmo após a vitória em Monza.
– Eu estava sempre largando sempre na primeira fila e caindo para terceiro, quarto, quinto. O que mudou quando comecei a trabalhar com a McLaren foi o cara que tá comigo, que é o José (Manuel López García). Ele falou para mim: “eu não trabalho baseado em resultados, mas se você não mudar as suas atitudes de ir atrás da equipe, os resultados não vão mudar”. Eu tive que ir atrás, liderar mais a equipe. Entender mais sobre o carro tecnicamente, entender mais sobre pilotagem para fazer o carro dar certo, entender sobre os procedimentos gerais… tudo isso fez com que as coisas começassem a dar certo.