Em sentença inédita na Espanha, torcedores do Valencia são condenados à prisão

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Trio foi sentenciado a oito meses de reclusão e terá de ficar dois anos sem entrar em estádios de futebol

Três torcedores do Valencia foram condenados à prisão nesta segunda-feira por proferirem insultos racistas contra o brasileiro Vinicius Junior, do Real Madrid, em maio do ano passado, no estádio Mestalla.

O trio foi sentenciado a oito meses de reclusão e terá de ficar dois anos sem entrar em estádios de futebol, além de arcar com as custas do processo.

Como foi o episódio de racismo contra Vini Jr?

Vini Jr denunciou ter sido alvo de insultos racistas durante partida do Real Madrid contra o Valencia em 21 de maio do ano passado. O jogo chegou a ser interrompido.

Após uma denúncia de La Liga, a liga espanhola de futebol, os torcedores foram identificados com a ajuda das imagens de câmeras de segurança do estádio.

Antes de serem condenados, segundo o jornal Marca, os acusados leram uma carta em que pediam desculpas a Vini Jr, à liga espanhola e ao Real Madrid. A defesa do trio não informou, até o momento, se vai recorrer da sentença.

— Esta sentença é uma ótima notícia para a luta contra o racismo na Espanha, pois repara os danos sofridos por Vinicius Jr. e envia uma mensagem clara para aquelas pessoas que vão a um estádio de futebol para insultar que a Liga irá detectar, denunciar, e haverá consequências penais para eles — afirmou o presidente de La Liga, Javier Tebas, em declarações reproduzidas pelo Marca.

O reencontro do atacante com os torcedores do Valencia aconteceu no fim de março, em partida válida pelo Campeonato Espanhol, nove meses após o episódio de racismo.

A chegada do ônibus do Real Madrid, time pelo qual atua o jogador brasileiro, à arena foi tranquila, conforme informa a imprensa espanhola.

No entanto, do lado de fora, imagens de cartazes com o rosto do atleta comparado ao Pinóquio foram compartilhados nas redes sociais.

Nove meses antes, ele foi chamado de “mono” (macaco, em espanhol) no mesmo estádio.

O jogador passou a ser tratado como “mentiroso” por parte da torcida do Valencia devido ao episódio, sob o argumento de que aquele teria sido um ato isolado, pelo qual os racistas já foram identificados.

Uma torcida organizada do Valencia chegou a criar uma música no ritmo da canção infantil “Pinóquio”.

E esse mesmo personagem — com o qual Vini foi comparado pelos valacentistas — foi o que ilustrou cartazes no entorno de Mestalla, em março.

Torcedores se reuniram e fizeram um protesto contra o presidente do Valencia, Peter Lim, e circulou nas redes sociais a imagem de um dos cartazes com o rosto do jogador (e um nariz crescendo). “Pinóchius (junção de Pinocho com Vinicius), eu não ligo”, dizia a frase estampada na peça.

O perfil no Twitter da “Associação de acionistas do Valencia CF pela sua liberdade e democratização” compartilhou, a meia hora do início do jogo, que a segurança considerou a placa “inadequada” e a removeu, em gesto que classificaram como uma “censura”.

Ônibus escondido e vaias no Mestalla

Segundo o Diário As, em uma decisão acertada com o Valencia e as autoridades competentes, o Real Madrid optou por entrar no estádio de maneira a evitar algum transtorno quando Vini desembarcasse do ônibus.

Por isso, o coletivo entrou por uma rua que não é a que habitualmente os times visitantes usam e, por isso, tiveram uma chegada tranquila. E “escondida”.

Já dentro do estádio Mestalla, o que se viu foi uma mensagem divulgada pelos telões da arena, que dizia “O Valencia contra a discriminação”.

Apesar disso, Vini Jr. foi alvo de vaias desde o aquecimento da partida. Já com a bola rolando, a torcida cantou “Qué tonto eres, Vinicius” (“Que idiota és, Vinicius”, em português), a cada vez que o jogador se apresentava. A tradução também pode ser para “burro” ou “bobo”.

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