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Agricultores seguidores do ex-presidente Evo Morales intensificaram nesta terça-feira os bloqueios de estradas da Bolívia para evitar a provável prisão de seu líder, investigado pelo suposto abuso de uma menor durante seu mandato em 2015.
Com pedras e terra, os manifestantes bloquearam o tráfego nas rodovias que conectam Cochabamba, no centro do país, com as cidades de La Paz, Sucre e Santa Cruz, segundo a estatal Autoridade Boliviana de Rodovias (ABC).
Nesta terça-feira, a ABC reportou duas novas rotas bloqueadas, que se somam às três de segunda-feira.
Em Paratono, um povoado que conecta Cochabamba com La Paz, foram registrados pelo segundo dia consecutivo confrontos entre civis e partidários de Morales e a polícia, sem confirmação de feridos.
Os civis, em sua maioria cocaleiros, usaram pedras, fogos de artifício e fogueiras, e a polícia respondeu com gás lacrimogêneo, de acordo com as imagens da televisão Unitel.
Os protestos para proteger Morales começaram na segunda-feira, dia que terminou com pelo menos seis presos.
À frente dos bloqueios está o Pacto de Unidade (Pacto de Unidad), uma coalizão de organizações próximas ao ex-presidente de 64 anos, que está se mobilizando “para proteger a liberdade, a integridade e (impedir) o sequestro” de Morales, conforme anunciado em um manifesto.
Além disso, segundo o El País, os bloqueios também têm o objetivo de pressionar o governo pela falta de dólares e a escassez de combustível, dois problemas da crise econômica do país.
O governo convocou conversas com Morales na segunda-feira, mas sem sucesso.
Morales, o primeiro indígena a governar a Bolívia entre 2006 e 2019, está sendo investigado pelos crimes de “estupro e tráfico de pessoas”.
Na quinta-feira, ele não cumpriu uma intimação do Ministério Público do departamento de Tarija para depor, o que poderia levar as autoridades a ordenar sua prisão.
Agora um opositor do governo de seu ex-ministro Luis Arce, o ex-presidente chama o caso de “mais uma mentira” que foi investigada e arquivada pelo sistema judiciário em 2020.
O suposto abuso remonta ao período em que o líder cocaleiro era presidente, em 2015.
Morales se envolveu com uma menor de 15 anos, com quem teve uma filha em 2016, segundo a denúncia que está sendo investigada pelo MP.
Os fatos teriam ocorrido em Tarija, um departamento ao sul da Bolívia.
De acordo com o processo, os pais da vítima — também investigados — a inscreveram na “guarda juvenil” de Morales “com a única finalidade de escalar politicamente e obter benefícios […] em troca de sua filha menor”.
A defesa do ex-presidente alega que o caso já foi revisado e arquivado em 2020.
Afirma ainda que a acusação é infundada por falta de provas, já que a vítima se recusa a testemunhar e seus pais são acusados, não acusadores.
A acusação baseia-se principalmente em uma certidão de nascimento onde o suposto pai reconhece a filha como tendo 16 anos na época.
Em seu manifesto, os seguidores de Morales atacaram Arce, outrora aliado do ex-mandatário e que agora mantém uma disputa pela candidatura do partido governista para as eleições presidenciais de 2025.
“O governo traidor […] não respondeu ao nosso pedido, nem teve a vontade de convocar para o diálogo sobre o abastecimento de combustível, a escassez de dólares, o aumento do custo de vida, o grave endividamento interno e externo”, entre outras questões que afetam a economia, afirmou o Pacto de Unidade.
Com o protesto dos apoiadores de Morales em curso, o presidente boliviano mudou, nesta segunda-feira, todo o alto comando policial.
A polícia “tem a missão constitucional” de “defender o povo de toda ameaça que possa atentar contra sua integridade”, disse Eduardo del Castillo, ministro de Governo (Interior), durante a cerimônia de posse de 20 oficiais.